Sair de Portugal e deixar para trás família e amigos foi a coisa mais difícil para mim. Embora o entusiasmo de sair para outro País à descoberta fosse enorme, sempre fui muito ligado às pessoas e sabia que me ia ser difícil essa parte. Chegar a um país e a uma cidade nova onde não se conhece ninguém, e onde existe a barreira da língua, é sempre um enorme desafio. Embora esteja na Europa, existem muitas coisas, principalmente aquelas coisas pequeninas que normalmente não reparamos, que são diferentes de cultura para cultura e que podem ser difíceis de aceitar num primeiro instante. O meu primeiro mês foi o mais difícil. Problemas em ter o cartão do banco pronto, não podia pedir o cartão do telemóvel e o francês parecia-me chinês a maior parte das vezes. O local onde estava alojado não era o melhor e existia barulho a toda a hora, o que fazia com que dormir fosse uma batalha todos os dias. No entanto comecei a fazer logo amigos por cá. Ex voluntários que cá ficaram a viver, outros que também começavam a chegar, e amigos desses amigos que começaram também a ser meus amigos. Estas pequenas amizades acabam por ser a nossa rede de suporte nos momentos menos bons, mas também para se rirem connosco. O Francês, entretanto, começou a fazer sentido na minha cabeça. Como eu gosto de falar muito não tive outro remédio senão começar a falá-lo, pois Inglês aqui é uma língua que não se conhece. Nos primeiros tempos acreditem que a cabeça me doía pelo esforço que fazia para perceber o que me diziam e consegui fazer-me entender. Senti que exercitei o cérebro, literalmente! Ao nível do Projeto também existem coisas boas e más. Algumas coisas não eram bem iguais ao que estava escrito na descrição, e outras não estavam escritas e vieram a mostrar-te importantes, positivas. Estar numa associação com adultos com deficiência não é algo fácil dum momento para o outro, e quando mais responsabilidade mostramos que temos, maior responsabilidade nos dão, o que faz com que possam confundir um bocado o que é isto de ser "voluntário". Há que saber dizer não quando assim é preciso e perceber até onde o nosso trabalho deve ir. Os dois seminários de voluntários são momentos super importantes, não só para descontrair e conhecer novas pessoas que estão a viver o mesmo que nós, mas também como para refletir sobre tudo isso que vivemos e planificarmos a nossa estadia, assim como os próximos passos! Viajar também tem sido das melhores coisas que tenho feito. Quando se está fora do país, existe mesmo um vírus das viagens que se apodera de nós. Ryanair e Easyjet começaram a ser duas grandes amigas! Conseguir ir para fora nos momentos em que estar fora parece difícil, é estranhamente bom! Até agora guardo um balanço positivo desta aventura. Sinto que cresci muito neste curto espaço de tempo, principalmente porque tenho ultrapassado as barreiras que me fazem sentir orgulho de mim mesmo! Renato Morais