Uma vida inteira num mês É sempre uma odisseia a tentativa de resumir experiências como a que tive no mês de Março de 2019. Há sempre algo que fica por mencionar, há sempre momentos, sentimentos, emoções, sensações, relações, etc. que são inexpressáveis por palavras e mesmo que o sejam ficam sempre mais ou menos aquém daquilo que ambicionam descrever. Contudo, arriscarei entregar-me à missão de o fazer… Um mês. 30 Indivíduos. 12 Nacionalidades. Um projeto. Um país. E uma cidade como nossa casa, recreio, universidade e incubadora. Para mim tudo começou no dia 1 de Março quando cheguei a uma pequena cidade no sudoeste da Turquia, Bodrum. O lugar onde mais tarde me viria a sentir em casa e o qual me custaria tanto a abandonar tal como se tivesse vivido lá uma vida inteira. Nos dias seguintes os voluntários começaram a chegar e o pontapé de saída do projeto foi dado. E assim a aventura começou. Nas semanas que decorreram, tivemos a oportunidade de criar uma pequena comunidade que se unia em torno do projeto em mãos e de valores e objetivos comuns. O principal foco do projeto centrava-se na questão ambiental e na promoção de estilos de vida mais sustentáveis e ambientalmente conscientes. Para isso, os voluntários apoiaram-se no segundo pilar da iniciativa, Land Art e a ideia de arte como instrumento de mudança. No entanto, em ambientes e experiências como estas a atmosfera intercultural e a existência de equívocos na comunicação são uma constante e sendo assim logo na primeira semana foram os temas protagonistas das várias reuniões e sessões onde os voluntários de puderam conhecer, aos outros e a si próprios. Questões como os estereótipos, preconceitos, etnocentrismo cultural, orientação de conflitos, organizar trabalhos colectivos e muitas outras foram abraçadas e analisadas em conjunto. Para além disso, estando na Turquia os voluntários tiveram a oportunidade de mergulhar na complexidade da língua turca não com o objectivo de a aprender mas sim para acender a curiosidade a quem mais tarde estivesse interessado em aprendê-la. Analisamos também algumas questões relacionadas com a cultura e a sociedade turca. Na segunda semana, Konstantin Prusov, um artista russo estando no projeto simultaneamente como voluntario e organizador deu início a algumas sessões de desenho e historia e cultura da arte com o objectivo de treinar os voluntários e ensinar-lhes a esboçar as ideias e as obras que teriam de criar nas semanas seguintes. No início da terceira semana, tendo o grupo delineado o conceito, a estratégia de promoção e a divisão de tarefas, o trabalho começou a intensificar-se. Embora seja necessário referir que pessoalmente trabalho e lazer se fundiam neste projeto e trabalho nunca ganhou a conotação aborrecida a que por vezes a palavra está associada. Mais tarde, os voluntários receberam outro artista russo que veio ocupar o lugar do anterior Vadim Kazansky especialista em florismo e galardoado internacional em múltiplas competições de Land Art e outro convidado especial Alan Wurman Rodrich, um filmaker e sonoplasta vindo dos EUA que se juntou aos voluntários durante alguns dias. Nesta semana os voluntários tiveram alguns workshops acerca de Land Art de modo a prepará-los para os dias que se avizinhavam. Na quarta semana os voluntários pisaram pela primeira vez o seu local de trabalho, Paradise Beach, uma praia com sérios problemas em termos de poluição que os voluntários limparam e onde fariam a sua exposição de Land Art. Durante os dias seguintes as várias obras foram se concluindo, chegando a um total de 10 obras que seriam exibidas no dia 23 de Março à imprensa local e nacional, a locais e a turistas. Em suma, este foi o projeto base que ocupou a maioria do tempo ao longo deste mês. Contudo nada impediu os voluntários de realizarem as suas próprias iniciativas que abrangiam temas como o Dia Internacional da síndrome de Down, crise do plástico, entre muitos outros. Nos dias livres os jovens aproveitaram também para conhecer o máximo que puderam das cidades e lugares relativamente próximos de Bodrum. No entanto, fica muito por contar. As saídas à noite, os jogos, as conversas, as actividades realizadas no tempo livre pelos voluntários, as tarefas relacionadas com o quotidiano da vida numa comunidade tão diversificada, a exploração da cidade onde se encontravam, a interacção com os locais, as festas, os nasceres e os pores-do-sol, os mergulhos, os passeios, as amizades e os amores, as aventuras inesperadas, os prazeres da gastronomia turca, as gargalhadas… e mesmo assim sinto que metade ainda está por dizer porque para dizer a verdade é preciso passar por estas experiencias para as entender na totalidade. É complicado evitar clichés e frases aparentemente rebuscadas quando procuramos expressar a marca que estas experiencias deixam em cada um de nós, mas pessoalmente posso dizer que foi o melhor mês da minha vida até agora. É entusiasmante pensar que a minha história com muitas das pessoas que conheci não teve o seu ponto final no momento em que apanhei o voo de volta a Portugal nem que este foi o apogeu da minha experiencia neste tipo de projetos e iniciativas porque a partir deste momento a fasquia já está bem alta. Concluindo, deixo um aviso e uma confissão a todos os que estiverem interessados numa experiência como esta, preparem-se para pagar o preço de nunca mais se voltarem a sentir em casa completamente porque a partir do momento em que conhecem e amam pessoas de lugares tão diferentes e tão distantes parte do vosso coração estará sempre noutro lugar qualquer.