O Serviço Voluntário Europeu: uma experiência para todos e cada um! Não existe um Serviço Voluntariado Europeu mas tantos quantos os projetos e voluntários que o constituem. Cada qual tem a sua história, expectativas, motivos e objetivos para embarcar no seu projeto, tenha este a duração de um mês ou um ano. A esta diversidade de pessoas e propósitos liga-se a multiplicidade de áreas temáticas, países, cidades e aldeias, órgãos de acolhimento, forma de alojamento, entre outros, criando-se assim projetos abertos a todos os jovens e simultaneamente únicos e personalizados. Eu, jovem de cidade pequena com gosto enraizado em partir e descobrir, uma licenciatura recém-completada e muitas dúvidas e indecisões quanto ao futuro, comecei em Novembro de 2016 o meu SVE, com destino ao Sul de França. Cheguei então à mais antiga cidade do país, Massília transformada em Marselha, porta para o Mediterrâneo aconchegada pelos Alpes, para iniciar a minha missão de 9 meses na associação Eurocircle, especializada no desenvolvimento e realização de projetos de mobilidade internacional para jovens com menos oportunidades. Aí, deparei-me com uma cidade bipolar e de contrastes; tanto solarenga e colorida como cinzenta e triste, resplandecente como degradada e abandonada, familiar e repleta de diversidade e culturas como fragmentada. A adaptação inicial, tanto às atividades voluntárias como à cidade e à cultura, foi bastante difícil. O trabalho parecia-me escasso e repetitivo, as conversas e discussões seguiam-se por todo o lado, a toda a velocidade, sem que eu as pudesse compreender ou integrar; as ruas e os colegas não eram senão estranhos; o tempo invernoso e os dias curtos lá fora entristeciam ainda mais o cenário. Contudo, ultrapassados estes pequenos grandes choques e mudanças, talvez por uma alteração de atitude pessoal ou das condições externas – ambas? –, pouco a pouco a vida diária foi melhorando e pude começar a disfrutar verdadeiramente da minha experiência de voluntariado internacional. É certo que a partir daqui tive também outros momentos difíceis, altos e baixos ao longo da minha estadia, mas percebi realmente o quão importante seria para qualquer situação de vida a forma como a encaramos. Decidi tentar minorar ou contornar os pontos mais negativos da minha vivência em Marselha e realçar e valorizar os mais positivos: mudei de funções para entrar num projeto novo e desafiante; procurei conhecer ruas, praças, praias e recantos da cidade; perdi o receio e a vergonha do meu francês de principiante, até que este passou a intermédio e depois a fluente – imperfeito, mas comunicável –; viajar quando possível, mesmo que até à vila mais próxima; render-me ao queijo francês mas sempre fiel à verdadeira cozinha, a portuguesa claro está!; aceitar convites e propor planos aos outros; ocupar-me com diferentes coisas e interesses; concentrar o meu tempo livre e energia em refletir, ponderar, pesquisar, preparar o futuro. Quanto à minha missão de voluntariado, passei a integrar enquanto assistente um projeto de inglês e desporto destinado a cerca de 20 jovens marselheses oriundos de contextos algo problemáticos, participando nas aulas de inglês com jogos, debates, exercícios, conversação e outras atividades de educação não formais. O tempo sobrante destinava-se às tarefas administrativas do projeto, ocasionais saídas culturais, algum acompanhamento aos jovens bem como à preparação para a sua partida para um período de voluntariado no estrangeiro, através da procura de associações parceiras, contacto com as mesmas, ligação com os participantes, entre outros. Por fim, em certos dias realizávamos intervenções em escolas, fóruns de emprego ou formação, locais institucionais ou associativos por forma a divulgar os programas de mobilidade da nossa associação, esclarecer dúvidas aos jovens, professores, familiares, dar o nosso testemunho… Em suma, partilhar e tentar multiplicar oportunidades como o SVE, que continuam ainda envoltas num certo desconhecimento. Terminado o meu projeto de voluntariado e apesar de todas as dificuldades e obstáculos vividos e ultrapassados, o balanço deste ano é bastante positivo. Aprendi a língua francesa e experienciei o trabalho social, os meus objetivos principais; descobri uma outra forma de viver no estrangeiro, uma nova cidade, país e cultura, quer através do contacto com colegas de diferentes idades e origens, como pela convivência próxima com os participantes do projeto que integrei; fiz alguns bons amigos de diferentes nacionalidades e idades; contactei com diversas organizações, descobri outras realidades e alinhei o meu próximo desafio, novamente pela Europa fora para continuar os estudos. Aconselho os futuros SVE’s a escolherem bem o voluntariado, pois esta é uma experiência rica e única, inclusiva e com um acompanhamento constante; atentando principalmente às tarefas e objetivos do projeto e à realidade associativa, meio social e cultural em que se irão integrar, sem nunca esquecer que o fator decisivo é a atitude com que se enfrentam os desafios e oportunidades! Obrigada ao programa Erasmus+ e a todas as entidades envolvidas nesta possibilidade de descoberta, conhecimento e intercâmbio pacífico de realidades, histórias e percursos, que está aberta a todos e a cada um de nós jovens, cidadãos europeus e do mundo.