Pode-se fazer um ano sabático em várias etapas da vida. Há quem o faça no fim do secundário, esperando que a experiência desse ano lhe ilumine o caminho a seguir. Há quem o prefira fazer no fim da universidade. Um ano mais de moratória social, antes de vestir as reais vestes de adulto. E há quem até o faça a meio da licenciatura. Talvez um pouco desnorteado pelo rumo que escolheu. Talvez imergido num grande talvez, se deve dar fim ao seu curso, ou mudar baterias para outro lado. Por fim, há os que o façam quando estão prestes a cruzar os trinta. Quando já estudaram, já trabalharam. Quando toda a gente espera que eles vão seguir por um dado caminho, um bem determinado e óbvio caminho. Este é o meu caso. Chamo-me Ricarda, parti para um ano de voluntariado na Republica Checa com 29 anos. Na bagagem levava arquivado, um curso de direito, na mais prestigiada faculdade do país, estágio num grande tribunal, 3 anos de experiência profissional, perspectivas de emprego, convites para projetos, uma colaboração iniciada com uma associação cultural… Aos olhos dos leigos da minha vida, tal parecia uma loucura, um devaneio a evitar em idade de ter juízo. Contudo, aos olhos da minha consciência e inquietações tal parecia uma necessidade inevitável. Ao que se chamava um percurso profissional bem alinhavado, eu chamava um trajeto de alguém frustrado. As frustrações são aquelas coisas que se colam à nossa pele e se categorizam como sentimentos. Elas resultam de espectativas quebradas. As grandes expectativas de que se alimentam os sonhos. Enquanto lutamos pelos nossos sonhos e temos esperanças em os alcançar, as frustrações derivadas de um conformismo cronico não existem em nós. Porém, elas são mesmo pegajosas, e incomodativas quando guardamos os nossos sonhos na prateleira poeirenta lá de casa. As minhas não me davam repouso, e decidi dar-lhes um fim. Sempre sonhei, que no fim da universidade ia viajar pela Europa, que me iria especializar em desenvolvimento humano e trabalhar nessa área. Todavia, a vida deu-me as voltas e esses sonhos ficaram por realizar, ficaram na prateleira poeirenta lá de casa. Mas eu decidi não ser uma frustrada para a vida. Pegar na mochila e mudar de país, mudar de ocupação, agora trabalho com crianças não com processos. Decidi mudar de vida. Sabem aquela música de António Variações? “Muda de vida se tu não vives satisfeito Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar Muda de vida, não deves viver contrafeito Muda de vida se há vida em ti a latejar” Pois, a música assenta-me bem. Já mudei de vida há acerca de 4 meses e meio. Nem sempre é fácil, viver num país, cuja língua não dominamos e onde o sol não brilha tanto como gostaríamos. Contudo, não me arrependo da minha decisão. Tenho aprendido tanto, e adoro as crianças e adolescentes com quem trabalho. Eles apegaram-se tanto a mim e eu a eles. Adoro os seus abraços e sorrisos. Ps: Tenho uma página no facebook a contar a minha vida nova: https://www.facebook.com/Ricardachangesherlife