A partir do momento em que soube que seria possível fazer parte de um projeto como este, fiquei desde logo convencida que o meu caminho passaria por fazer voluntariado, e é assim que a E.D.R.A, a minha associação de acolhimento e Atenas surgiram na minha vida. Candidatei-me ao projeto e durante alguns meses estava convencida que não seria escolhida, por não considerar que tivesse algo que chamasse a atenção para se ser selecionado para um projeto destes. A única coisa que tinha a certeza é que o queria fazer e estava preparada para tal, para conhecer mais um país, para conhecer mais pessoas, para conhecer outra cultura, aprender outra língua, enquanto fazia algo que fizesse diferença no mundo de alguém que não o meu. Meses depois recebi o e-mail, tinha sido selecionada e em Setembro embarcaria numa aventura que iria mudar completamente a minha vida e a minha visão geral do mundo. Estou cá há 5 meses, metade do tempo do meu projeto já passou e vai-me custar imenso dizer adeus há minha vida em Atenas. O meu projeto está relacionado com o meu percurso académico, tenho o primeiro ano de Mestrado em Psicologia Clinica. Tenho estado a trabalhar numa casa onde vivem atualmente ex-utentes de hospitais e clinicas psiquiátricas e que, devido a circunstâncias da vida, pouco ou nenhum contacto têm com as respetivas famílias. Nesta casa, foram ensinados a serem independentes, na medida do possível, e a desempenhar aquilo que nós consideramos tarefas diárias básicas, como a higiene pessoal e até um simples colocar a mesa para uma refeição. Nesta casa está também uma equipa de profissionais, enfermeiros, terapeutas e psicólogos que têm como função zelar pelo bem-estar físico e psicológico destes utentes. No dia-a-dia desta casa, existem também atividades quer internas quer externas, como por exemplo, as terapias de grupo, como a musicoterapia, e a ida ao café ou mesmo a museus ou eventos que estejam em vigor em Atenas. Mas se havia alguma possibilidade da aprendizagem ser apenas unilateral, esta foi totalmente dissipada poucas semanas depois de chegar a esta “boarding house”. Aquilo que mais aprendi foi que estas pessoas, que são por vezes excluídas por necessitarem tanto de quem as acompanhas, para mim, que nem dizer “Como está?” sabia dizer em grego quando cheguei, aquilo que mais precisam é de afeto, carinho e compreensão, necessitam sobretudo de sorrisos, de caras amigáveis e de uma mente aberta. Pode ser cansativo, por vezes, não o nego, mas aprendi a dar valor a um abraço, ou a um beijo que quando dado por eles em jeito de agradecimento me preenche o dia e me orgulha de estar a fazer o que faço. Para além deste profundo enriquecimento a nível pessoal, esta experiencia trouxe-me outras coisas muito boas. Conheci pessoas que sem isto nunca teria conhecido, como a Miriam, a minha companheira de quarto, que hoje considero como uma irmã e que não consigo associar Atenas sem a sua presença. Também com esta experiencia aprendi a lidar com outras dificuldades que não encontraria se estivesse em Portugal, como a barreira da linguagem e a saudade imensa da minha família, dos meus amigos e da minha terra, e como tive saudades! Bem, aprendi a lidar tão bem que comprei o bilhete de avião e fiz-lhes uma surpresa no Natal! A linguagem, bem, como os gregos dizem “σιγά, σιγά” (sigá,sigá) que é como quem diz “devagar se vai ao longe”, e para além disso, a E.D.R.A proporciona-nos aulas semanais de grego com uma excelente professora que tem muita paciência! Como se tudo isto não fosse desde já maravilhoso, tenho ainda tempo suficiente para viajar, conhecer a Grécia de alto a baixo, e conhecer sobretudo Atenas, fora dos trilhos turísticos, descobrir as ruas, os esconderijos e as pequenas histórias contadas nas paredes de quem vê a cidade com o coração e não apenas com a vista.