Cheguei a Berlim há mais de 10 meses e, por vezes, esforço-me por recordar que estou na Alemanha . Não é que não me sinta em casa, apenas estou no cruzamento entre línguas e culturas de todos os cantos do mundo, que me acompanham desde a porta de casa, ao metro, às ruas da cidade e ao meu local de trabalho. Neste último também diariamente experiencio a multiculturalidade. Para além de ser um infantário bilíngue (inglês e alemão) existem muitas outras línguas e culturas, não só em relação às crianças com quem convivo, mas também com os meus colegas. Por vezes toda esta diferença obriga-nos a ser mais flexíveis e perceber que por vezes temos de usar caminhos alternativos. Desde o primeiro dia que fui bem recebida por todos, o que sem dúvida me ajudou a retirar tanto desta experiência. Trabalhar com crianças foi algo completamente novo para mim e o impacto que teve foi muito mais longe do que o que esperava. Comprovei que é verdade que aprendemos muito com elas, aprendi a valorizar muito mais as coisas simples e a olhar de outra forma tudo aquilo que ao longo dos anos vamos tendo como garantido e sem questionamentos. Tem sido um ano atípico, pelos motivos que todos conhecemos. Estava no meu segunda seminário com voluntários de toda a Europa que se encontravam aqui na Alemanha pelas mesmas razões que eu, quando todos nos apercebemos da seriedade do Coronavírus e diariamente íamos fazendo atualizações uns aos outros, tanto do nosso país de origem, como da nossa cidade na Alemanha. Ao regressar a Berlim já não voltei ao trabalho pois os infantários foram fechados. Isto obrigou a uma adaptação por parte de todos e também a alguma criatividade pois tínhamos de arranjar forma de continuarmos a trabalhar. A solução passou por tentarmos manter o contacto com as crianças digitalmente, gravando vídeos e, individualmente, fomos arranjando forma de nos mantermos ativos, lendo artigos sobre assuntos relevantes da área, por exemplo, procurando o que mais nos interessa. Aos poucos fomos voltando ao infantário para arrumar e organizar o espaço até que começarmos a ter algumas crianças, com a diferença que tivemos de nos separar em grupos de forma a evitar que estivéssemos todos em contacto. Esta cidade que me acolheu proporcionou-me boas memórias, especialmente pelas pessoas que fui conhecendo e se tornaram amigos, mas também por todos aqueles com quem tive algum contacto, mesmo que breve. Em Berlim há sempre algo a acontecer, só temos de saber procurar. Facilmente podemos encontrar algo novo para experimentar, nem que seja a nível gastronómico. Logo nas minhas primeiras semanas aqui fiquei a conhecer sabores novos dos mais diversos sítios e esta variedade parece nunca acabar. Sem dúvida a minha parte favorita de estar aqui é a multiculturalidade com que convivo e também o sentimento de estar num lugar com tanta história, sentindo frequentemente que estou a viajar no tempo. Algo muito caricato é como por vezes parece que estou numa cidade completamente diferente. Desde a arquitetura às pessoas, é possível ainda hoje sentirmos pequenas divisões nos diversos distritos de Berlim.